Boa noite! Meu nome é Lyed Hyn, muito prazer! O taverneiro me falou que você está interessado nas minhas estórias, é verdade? Hum... Interessante. Você pagará o vinho enquanto eu contar a estória? Sim? Então meu amigo, prepare-se para ouvir a minha primeira e mais fantástica estória!
Qual? A minha própria estória! De como me tornei o que sou hoje e o porquê de estar tão longe de casa.
Por que essa cara de espanto? Essa é uma de minhas melhores estórias! Taverneiro, uma garrafa de vinho e dois copos! - Lyed senta-se confortavelmente, recostando-se até quase não haver mais cadeira, ergue uma das pernas, colocando-a sobre a mesa e junta as duas mãos cruzadas sobre a barriga.
Minha estória começa numa pacata vila de pescadores no litoral de Turmish chamada Irych, onde eu nasci 21 anos atrás. Eu cresci e, não mentirei para você meu amigo, eu era o homem mais bonito daquela cidade! E como eu aproveitei a minha juventude... O problema era que sempre havia um pescador correndo atrás de mim com uma faca na mão, enquanto eu carregava apenas minhas roupas... Um último gole de vinho antes do próximo copo!
Qual o seu nome, bom homem? Não posso lhe contar uma estória sem ao menos saber isso! Muito prazer Jolin, clérigo de Tymora!
Bem, voltando à estória.
Eu cresci e com o tempo me veio a obrigação em trabalhar e, como disse Jolin, não mentirei para você, ainda mais agora que sei que é um clérigo da Deusa que Sempre Sorri. Verdade seja dita, eu sou um vagabundo por natureza. Dos meus 12 aos 17 anos, fui pescar três vezes com meu pai. Mas eu não sofria nenhum castigo, pois eu tinha formas de me redimir com ele.
Eu, Lyed Hyn, era, e ainda sou, um homem que sabe usar as palavras. Meu pai pescava peixes, e eu os trocava por todo tipo de mercadorias com os barcos que atracavam no porto da cidade e com os outros moradores de Irych. Eu era um negociador tão habilidoso, que uma vez troquei seis linguados por uma reforma no barco do meu pai!
Com o tempo eu fui ficando conhecido como o melhor negociante da cidade, e comecei a tratar dos negócios dos comerciantes locais com os capitães dos navios que atracavam em Irych. Pois, não sei se você sabe, mas minha cidade é uma parada quase obrigatória para os barcos que viajam entre Chessenta e Sembia, já que é a última cidade antes da Ilha Pirata.
Nesse tempo eu acreditava ter uma boa vida. Acreditava no bem, acreditava que os deuses querem sempre o há de melhor para nós, mortais. Acreditava que conhecia muitas coisas e muitas pessoas, acreditava que eu aproveitava minha vida, enfim, acreditava que era feliz.
Taverneiro! Qual o seu nome, homem? Torev, nos traga mais uma jarra de vinho! Vinho e estórias! Não há nada melhor que isso!
Bem, eu dizia que acreditava em muitas coisas, inclusive que era feliz. Jolin, meu bom sacerdote, eu te digo que tudo em que acreditava virou nada no momento em que vi aqueles cabelos dourados brilhando ao sol, aquele maravilhoso par de peitos, aquele andar hipnotizante... Ah! Que mulher era aquela! Eu estava indo tratar com o capitão do barco que havia atracado no porto e ela passou ao meu lado, o perfume suave da Dama da Noite fazendo rastro por onde ela passava... * um longo suspiro, seguido por um longo gole de vinho *
Bem, cumpri com minha obrigação e depois fui descobrir quem era aquele ser enviado por Valkur. Ela estava conversando com uma mulher de Irych, uma velha conhecedora de plantas e esse tipo de coisa. Ela procurava um lugar onde pudesse conseguir flores para fazer perfumes para ela... * outro longo suspiro e o terceiro copo de vinho acaba *
Fingi que ia falar com a velha e ouvindo o que conversavam, me ofereci para levá-la onde existiam flores belíssimas, num lugar perto dali. Ela aceitou meu convite e... Ah, que voz sublime era a dela! E que andar magnífico! E como era delicada... * um terceiro suspiro e mais um copo de vinho acaba *
Torev, nos traga mais vinho!
Bem, descobri que ela era filha de um capitão, mas não de qualquer capitão! Ela era filha do Capitão Debrett, o Vermelho, o homem com quem eu acabava de negociar e que havia gostado muito de mim. É claro que não o suficiente para me conceder a mão de sua filha, mas o bastante para me aceitar em sua tripulação.
Jolin, sua deusa sorriu largamente para mim nesse dia. Despedi-me de minha mãe, despedi-me de meu pai, juntei minhas poucas coisas e fui de encontro ao Capitão Debrett.
“Você fazer parte da minha tripulação?! Mas que idéia imbecil é essa, rapaz?!” ele respondeu quando eu propus meu ingresso em sua tripulação.
“Você sabe o que um marujo faz, rapaz?” Não, eu disse.
“Você sabe reparar um barco, rapaz?” Não, eu disse.
“Você sabe como ler as estrelas, como ver se uma tempestade se aproxima... Você sabe como atravessar um recife de coral, rapaz?” Não, eu disse. Para todas as três perguntas.
“Diabos rapaz, você não parece ter nascido numa vila de pescadores! Você sabe pelo menos nadar?” Não, eu disse. Mas agora eu estava apenas me divertindo com o Capitão.
“Você sabe lutar, rapaz? Não quero ser responsável pela sua morte na mão de um pirata!” Eu disse que não sabia, mas que teria gosto em aprender. Um último gole de vinho antes do próximo copo!
O Capitão continuou, “o que, pela ira de Umberlee, você sabe fazer que me faça aceitá-lo em minha tripulação?” Eu disse que sabia usar as palavras muito bem, ele riu e me disse “do que palavras me servem, rapaz?”
Quando eu lhe disse que, com palavras, tinha-o feito pagar por quatro dúzias de peixes, doze garrafas de rum e seis cestos de frutas três vezes o valor que elas realmente valiam, ele me aceitou em sua tripulação.
Assim eu parti no Esperança, rumo à lugares que não conhecia, com pessoas que não conhecia e teria que fazer coisas que ainda não sabia. A única coisa que eu sabia é que aquela garota de beleza sublime também estaria nesse barco, com seus olhos magníficos, com sua pele perfeita... * um novo e longo suspiro e o quinto copo de vinho acaba *
Torev! Mais uma jarra de vinho!
O Capitão Debrett era um pirata, mas conseguia se passar muito bem por um comerciante, apesar das... Inconveniências. Quais? O Capitão era um homem que sabia falar, sabia lutar e que sabia fazer filhas muito bem, mas ele era extremamente atrapalhado. Os homens dele diziam que ele havia sido amaldiçoado por um bruxo-pirata certa vez, mas eu acredito que ele era desse jeito por natureza mesmo. Bem, até hoje ele não admite abertamente ser um pirata, mas eu percebi isso assim que entrei naquele barco e percebi um número incomum de peças de arte, moedas de ouro e homens mal encarados. E foi um destes que o capitão escalou para me treinar na arte da espada.
No inicio eu era péssimo. Tinha hematomas e cortes pelo corpo inteiro, e mais da metade deles fui eu mesmo quem fez, mas com o tempo, e eu digo a você Jolin, um longo tempo, eu comecei a melhorar minha habilidade e fui aperfeiçoando minha técnica com minha velocidade e minha sagacidade! Devo dizer que fiquei muito satisfeito quando consegui fazer um corte no Caolho, o homem que me treinava. Como? Ahn... Bom, ele tinha apenas um olho...
Mas o que realmente importa para minha estória é que eu consegui me aproximar de Aideen, a filha do Capitão, e Jolin, como ela era simpática e gentil e amorosa... E que nome divino! * suspiro e um copo de vinho *
Para encurtar um pouco a estória para você, Jolin, o Capitão Debrett me pegou numa situação delicada... Com a filha dele... E nós dois nus... Imediatamente ele reuniu a tripulação no convés e eu, semi-nu, ouvi meu julgamento e minha sentença. Nada satisfaria o Capitão Debrett além da minha morte, e ele a teria se algo maior não tivesse acontecido.
Jolin, eu não sei se Tymora gosta muito de mim, mas ela me sorriu novamente nesse dia, pois eu estou aqui, vivo.
Enquanto eu caminhava pela prancha a caminho das águas noturnas do Mar das Estrelas Cadentes, enquanto Aideen gritava pela minha vida e seu pai vibrava com minha morte e subentendida traição, uma voz surgiu em meio ao caos e agitação do momento e todos ouviram apenas duas palavras, “ataque pirata!”
Cada homem do Esperança, o Capitão Debrett, Aideen e eu vimos se aproximar de nós um barco que, hoje eu sei, todos os que navegam ou um dia navegaram temem, o Desmorto. Não conheço ninguém que saiba o verdadeiro nome do capitão daquele navio, mas todos sabem que ele já morreu, assassinado pela sua própria tripulação, voltou como um morto-vivo, torturou e matou todos os que o traíram, retomou o comando de seu navio, lhe deu seu novo nome e adotou para si o nome de Sinistro, ou Capitão Sinistro.
Depois que nos livramos do Desmorto, com várias baixas, é claro, acreditamos ter atravessado inteiros o pior momento que passamos nos mares de Faerûn. Quando a euforia havia passado e fomos averiguar o tamanho das perdas, demos conta que algo inestimável havia sido roubado de nós. Aideen.
Como escapamos? Ora Jolim, não me pergunte isso agora! Como escapamos é assunto para outra estória! * outro copo de vinho acaba *
O Capitão Debrett ficou desolado e eu, aproveitando a oportunidade, me comprometi em resgatá-la, desde que depois eu fosse um homem livre, e não um condenado à morte. Depois de muito negociar termos e condições, como não encostar nem em um dedo dela, ele aceitou e me libertou para procurá-la e levá-la de volta ao Esperança.
Desde então eu venho seguindo pistas e informações e cheguei até aqui. Dizem que em nesta cidade existe um mercado de escravos, e que Sinistro estaria interessado em comprar alguns. Se for verdade, terei uma chance de resgatar Aideen. Se ele não estiver aqui, alguém com certeza deve saber algo sobre ele que eu não sei, ou onde ele possa estar. * o último copo de vinho acaba *
Bem, essa é minha estória, e digo mais a você Jolin, eu estou numa missão de amor. Lembro agora que havia um bardo no Esperança, e ele estava fazendo um desenho de Aideen. Quando eu encontrá-la, terminarei o desenho e a pedirei em casamento! O Capitão Debrett? Bem, não pensei nisso ainda...
E você, sacerdote? Tem alguma boa estória ou você nasceu com esse seu rosto de ouro?